Por Direito de Ouvir

25 de September de 2019

Surdo e mudo: A relação entre as duas deficiências

Será que todo surdo é mudo? Solucione essa e outras dúvidas neste artigo!

25 de September de 2019


Várias partes do nosso corpo - olhos, ouvidos, cérebro, boca, nariz etc - se comunicam entre si de alguma maneira. Assim, quando algo está errado em alguma delas, podemos sentir reflexo em outro sentido. Mas, afinal, qual é a relação entre nossa audição e a fala? Será que toda pessoa surda também é muda?

Na realidade, a audição é um importante componente da fala. Isso porque, quando falamos, usamos as informações recebidas pelos nossos ouvidos para configurar o tom e o ritmo da fala.

Em tese, isso justifica o fato de que, geralmente, os deficientes auditivos sofrem com algum impedimento na linguagem oral. Essa barreira na comunicação depende de alguns fatores, como o grau da perda auditiva e os estímulos de fala que a pessoa recebe antes e depois do surgimento da deficiência.

Porém, isso não quer dizer que todo surdo é mudo como muitas pessoas acreditam. A seguir, explicaremos a relação entre surdez e mudez e porque a expressão surdo-mudo não é adequada. Confira!

Explicando a relação entre surdo e mudo

Um estudo publicado na Neuron em 2012 procurou analisar como a perda auditiva total ou parcial pode prejudicar a parte do cérebro que controla a fala. Os resultados revelaram que os problemas de vocalização dos surdos podem ser causados pela reorganização neural que acontece depois da perda da audição.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas fizeram testes com uma espécie de pássaros. Assim como os humanos, essas aves aprendem a vocalização no ambiente social e a desenvolvem ao longo do tempo.

A conclusão do teste surpreendeu os cientistas. Eles perceberam uma degradação nos neurônios que controlam o canto dos pássaros apenas 24 horas após a perda auditiva. Mesmo que os pássaros continuassem a cantar por dias ou semanas, os neurônios continuavam a se degradar e, consequentemente, a vocalização diminuía com o tempo.

O autor do estudo e neurobiólogo da Universidade Duke, Richard Mooney, comparou esse processo com o que acontece quando uma pessoa sofre com a perda auditiva. Logo, é importante entender os diversos efeitos (relacionados à fala, nesse caso específico) da perda auditiva nos humanos para combatê-los.

Outra descoberta interessante é que a surdez e a mudez não se relacionam em todas as espécies. Os galos, por exemplo, já nascem com a habilidade de cantar. Já os pássaros que participaram do teste, aprendem a cantar para interagir com os outros animais como uma resposta ao ambiente em que eles vivem. Por causa dessa diferença, concluiu-se que os galos continuarão a cantar da mesma maneira mesmo se ficarem surdos, diferentemente dos pássaros e dos seres humanos.

Assim, Mooney concluiu que ouvir a si mesmo é algo importante em espécies que desenvolvem e modificam sua vocalização com o tempo. Portanto, a perda da audição pode prejudicar a fala. Entretanto, isso não quer dizer que, necessariamente, toda pessoa surda também é muda.

Por que nem todo surdo é mudo?

O primeiro a usar o termo surdo-mudo foi Aristóteles, que acreditava que os surdos eram incapazes de raciocinar ou aprender algo. A partir desse pensamento, muitas pessoas passaram a acreditar que um indivíduo que não podia ouvir normalmente também não pudesse usar sua voz. Logo, essa pessoa não teria capacidade de desenvolver habilidades cognitivas.

Até hoje, muitos ainda utilizam a expressão surdo-mudo. Porém, é preciso saber que o termo é tecnicamente impreciso. Isso porque, geralmente, os indivíduos surdos ou com deficiência auditiva não têm problemas no funcionamento vocal. O problema que faz as pessoas acreditarem que todo surdo é mudo está no fato de que, salvo raras exceções, os humanos precisam conhecer os sons para reproduzi-lo corretamente.

Também é preciso deixar claro que a fala não é a única forma de discurso. Na verdade, os surdos usam vários métodos de comunicação que vão além de usar sua própria voz. Linguagem de sinais, leitura labial e vocalizações são algumas maneiras de se comunicar.

Além disso, a deficiência auditiva ocorre em diferentes graus. Assim, em muitos casos, os deficientes auditivos conseguem conversar normalmente. Essa capacidade depende de muitos fatores como, por exemplo, se o indivíduo é surdo pré ou pós-lingual e sua formação educacional.

Em casos de perda auditiva menos graves, os aparelhos auditivos ajudam a recuperar a capacidade de ouvir a maioria dos sons, inclusive a sua própria voz e, consequentemente, não afeta a fala.

Assim, a terminologia apropriada para deficientes auditivos que não desenvolveram a fala seria surdo “não verbal”. Outra classificação válida é a dos surdos oralizados ou oralistas. Em outras palavras, são pessoas com deficiência auditiva que realizam tratamento com fonoaudiólogo para aprender a utilizar as cordas vocais mesmo sem conhecer os sons.

Afinal, quando um surdo também é mudo?

Apesar da expressão surdo-mudo ser equivocada, existem casos em que a pessoa com deficiência auditiva também sofre com mudez. O estudo que citamos acima comprovou que existe uma relação neural entre a audição e a fala.

Além disso, existem outras situações em que um surdo também é mudo. Alterações psicológicas e ausência de cordas vocais são algumas delas. A psicose, por exemplo, é um transtorno mental que faz o indivíduo perder o controle de alguns sentidos. Assim, é comum que a pessoa simplesmente pare de falar.

Outra situação comum de mudez é relacionada com tumores que atingem a laringe. Consequentemente, o paciente precisa retirar as cordas vocais. Nesses casos, existem tratamentos para recuperar a fala por meio da voz esofágica, isto é, pelo esôfago.

Pode ser que os pacientes com psicose e tumor na laringe também sofram com a perda auditiva ao mesmo tempo que têm incapacidade de reproduzir a fala. Entretanto, em ambos os exemplos, uma situação não resulta na outra.


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