Superando a vergonha de não ouvir.
O impacto social da perda auditiva causa constrangimento.

O impacto social da perda auditiva é extenso. Pelo preconceito velado e crenças distorcidas, a procura adequada pelo profissional responsável por auxiliar na perda auditiva – fonoaudiólogos e/ou otorrinolaringologistas – é tardia. E tão pouco se fala sobre o impacto que a surdez causa, que se faz pouco caso. Acostuma-se a ouvir mal – e não devia. Acostuma-se a precisar aumentar o volume da televisão, acostuma-se a pedir para repetir ou, ainda pior, acostuma-se a FINGIR que ouviu.
Isso vai causando uma vergonha tão latente para quem tem a perda auditiva, que pode desencadear uma vida reclusa, deprimida e quase solitária. É mais fácil evitar as pessoas do que assumir a surdez, percebe? É uma atitude tão insana, se formos pensar racionalmente, porque o mercado está cheio de tecnologias de ponta, com aparelhos auditivos diversificados, para tornar a vida do não-ouvinte mais confortável, acessível e, se me permite dizer, extremamente normal.
Sim, sou surda.
Ou parcialmente surda, ainda não me acostumei com o termo. Tenho perda auditiva em ambos os ouvidos e descobri, há pouco menos de três anos, que o negócio era sério. Assim como várias pessoas que escuto histórias, eu também tive uma vontade extrema de sumir e não assumir que precisava do uso de aparelhos auditivos, afinal, eu tinha só trinta anos e isso era coisa de gente velha, não era?
Eu já experimentava na pele o impacto que a perda auditiva causava: era considerada antipática; evitava certos compromissos sociais e morria de vergonha de falar em público – não pelo público em si, mas pelo constrangimento que seria alguém fazer uma pergunta e eu não entendê-la.
Entrei nessa redoma de ficar na minha própria companhia, curtindo filmes e músicas em sons excessivamente altos para os ouvidos “normais” e me isolando de toda situação que colocasse a minha deficiência em evidência. Foi a muito contragosto que voltei ao Otorrino e recebi o diagnóstico de “DEFICIENTE AUDITIVA”.
A vergonha do não-ouvir cedeu espaço para a vergonha de ser deficiente e precisar de aparelhos auditivos. Mas toda vergonha caiu por terra quando pus o aparelho, ajustei e saí para um mundo que era totalmente novo para minha audição.
Recuperei minha confiança, ganhei de volta minha autoestima e o impacto social reduziu-se a zero...
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Mafê Probst, escritora e PcD.
Curiosa e criativa, descobriu o mundo quando passou a
ouvi-lo melhor.