Por Direito de Ouvir

12 de December de 2016

Ruído na escola afeta a fala de crianças

Conversas e barulho interno e externo prejudicam aprendizado

12 de December de 2016


Conversas, arrastar de cadeiras, barulho externo e acústica pouco adequada. Com tanto ruído nas salas de aula das escolas, a percepção da fala das crianças acaba sendo prejudicada. É o que aponta um estudo da Unicamp.

O projeto de mestrado da fonoaudióloga Nádia Giulian de Carvalho, que aborda a percepção de fala no ruído em crianças de 8 a 10 anos com dificuldade escolar, contou com a participação de 124 estudantes de cinco escolas da cidade de Bom Jesus dos Perdões, SP. Os alunos participantes não tinham queixas iniciais de audição, nem aparentes alterações cognitivas/síndromes, tampouco com diagnóstico de alterações que afetem o desenvolvimento neuropsicomotor ou de linguagem. Delas, 63 tinham dificuldade escolar e 61, utilizadas como contraponto, apresentavam bom desempenho escolar.

Entenda a pesquisa

Para começar, verificou-se a integridade auditiva dos participantes. Desta etapa, em que participaram 124 crianças, 27 foram excluídas por apresentarem alterações de orelha média e/ou perda auditiva, com a recomendação de que fossem encaminhadas para tratamento pelo município. Ou seja, 22% delas já manifestavam comprometimento periférico, índice que pode ser considerado preocupante.

A pesquisa submeteu as crianças ao teste Dicótico de Dígitos, que possibilita avaliar como a pessoa integra as informações recebidas pelas duas orelhas, avaliando a habilidade de ouvir o som pretendido mesmo na presença de estímulos competitivos.

No universo das 97 crianças estudadas, os resultados mostraram que enquanto 100% das crianças com bom desempenho escolar passaram no teste, cerca de 70% das que apresentavam dificuldade escolar foram reprovadas.

Na etapa seguinte todas essas crianças foram submetidas ao HINT Brasil (teste de percepção de fala, que utiliza frases estruturadas de forma semelhante à de uma conversação diária, que possibilita a avaliação da capacidade funcional auditiva), com fone auricular, em cabina acústica. Os resultados mostraram que as crianças com dificuldade escolar têm muito mais dificuldade de percepção de fala, tanto no silêncio como no ruído.

Ruído realmente afeta a percepção das crianças

A conclusão foi de que crianças com dificuldade escolar têm mais alterações periféricas (perdas auditivas e alterações de orelha média), mais dificuldades na habilidade de figura-fundo e mais dificuldade na percepção da fala, tanto no silêncio como nas situações de ruído.

Várias regiões do córtex cerebral contribuem para o aprendizado e se alguma coisa falha ele pode ser comprometido. É isso o que acontece no caso dos problemas de audição. Por isso é fundamental que as crianças passem não apenas por uma avaliação periférica, mas também por uma avaliação do processamento auditivo central.

Segundo a especialista que conduziu a pesquisa, é importante pontuar que, mesmo com a normalidade da audição periférica, a criança pode não estar escutando bem porque ocorrem alterações da cóclea para o cérebro, o que a leva a não processar bem o que está ouvindo, como mostram vários trabalhos que correlacionam processamento auditivo central com aprendizagem.

Dessa maneira, ela sugere o aumento da oferta dessas avaliações nos serviços públicos de saúde e destaca ainda a necessidade de preocupação com o ruído no ambiente escolar, que deve ser visto como uma questão de saúde pública. De acordo com as normas da ABNT, o ruído de sala de aula não deve ultrapassar 55 decibéis - o que não acontece de fato.

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